Vi-o pela primeira vez no Porto, há cerca de dois anos. Fui ter com ele em Dezembro, num sábado de manhã. O meu pai deixou-me, sozinha, à porta daquele sítio enorme com construções do Siza e foi-se embora. Houve algo no meu pai que fez-me perceber que aquele sentimento iria repetir-se.
Encontrei o Thomas um ano mais tarde em Berlim, no metro. O meu sentimento em relação ao meu pai confirmou-se e repetiu-se mais vezes do que eu pensava ser possível. Talvez tenha sido isso que me conduziu a Berlim.
Até então detestava aquela estação, não gosto do cheiro. O Alexanderplatz é enorme e eu como sou tão desorientada perdia-me imensas vezes, não encontro a saída que quero e fico nervosa porque ainda me atraso mais do que já estava.
Em Berlim o Thomas já não estava sozinho, veio acompanhado pela Christine Hill que andou a colocar cartazes pop com mensagens exageradamente optimistas pelo estação fora e o Ayşe Erkmen que saudava quem chegava na U8 (a minha) com uma música como que se fizéssemos todos parte duma cena dum filme. O Thomas construiu um altar kitsh à poetisa austríaca Ingeborg Bachmann. Foi um encontro rápido, estava tudo em movimento.. era precisamente essa a ideia deles.
No Porto, o que ele me transmitiu sobre a Anschool foi de encontro a algumas ideias que eu já tinha mas que não estavam sistematizadas e começaram através dele a encontrar uma base de sustento.
Ver que um artista expressa aquilo que já pensámos ou sentimos legitima de certa forma esses pensamentos e sentimentos, evita que caiam naquela espiral da Neumann.
Ele explicou-me que baseia o seu trabalho na Anschool, o pensamento anti-escolar que refuta princípios de transmissão e formatação do pensamento na perspectiva de interrogar as possibilidades de acessibilidade democrática ao conhecimento e à experiência.
Hirschhorn monta instalações que fazem referência à filosofia, política e à cultura pop. Essas construções são feitas com materiais baratos e efémeros como papel de alumínio, papelão, fita-cola, páginas de revistas ou jornais usados. Nelas ele coloca livros, manifestos e escritos seus, mapas, etc.
Em Serralves acorrentou livros que considera importantes para a Humanidade.
Fiquei admirada por encontrar um livro que levo para qualquer lado: The Art of Happiness do Dalai Lama e Howard C. Cuttler.
As fotografias, publicidade, carteiras de escola gigantes e flyers com textos dele e de outros autores sobrepunham-se deixando-me quase tonta. O seu discurso era caótico, confuso, desestruturado, como os nossos pensamentos, e vi-me impossibilitada de entender tudo numa só leitura.
Houve uma frase que me marcou no fim deste nosso encontro: "Um artista precisa de ser capaz de fazer um gesto ousado, de ser corajoso. A arte proporciona resistência."
Penso que o princípio da Anschool é me tão sensível por causa das minhas escolas. O facto de me ter sido transmitido conhecimento através de fórmulas, formas, controle, avaliação, estruturas de relações emocionais rígidas e supostamente imutáveis. Não, o encontro com as perspectivas de Hirschhorn não foi importante por isso, é que nessa altura o meu pai não conseguiu mais utilizar essas formatações e estava a sentir que também não funcionaram para ele.
Até então detestava aquela estação, não gosto do cheiro. O Alexanderplatz é enorme e eu como sou tão desorientada perdia-me imensas vezes, não encontro a saída que quero e fico nervosa porque ainda me atraso mais do que já estava.
Em Berlim o Thomas já não estava sozinho, veio acompanhado pela Christine Hill que andou a colocar cartazes pop com mensagens exageradamente optimistas pelo estação fora e o Ayşe Erkmen que saudava quem chegava na U8 (a minha) com uma música como que se fizéssemos todos parte duma cena dum filme. O Thomas construiu um altar kitsh à poetisa austríaca Ingeborg Bachmann. Foi um encontro rápido, estava tudo em movimento.. era precisamente essa a ideia deles.
No Porto, o que ele me transmitiu sobre a Anschool foi de encontro a algumas ideias que eu já tinha mas que não estavam sistematizadas e começaram através dele a encontrar uma base de sustento.
Ver que um artista expressa aquilo que já pensámos ou sentimos legitima de certa forma esses pensamentos e sentimentos, evita que caiam naquela espiral da Neumann.
Ele explicou-me que baseia o seu trabalho na Anschool, o pensamento anti-escolar que refuta princípios de transmissão e formatação do pensamento na perspectiva de interrogar as possibilidades de acessibilidade democrática ao conhecimento e à experiência.
Hirschhorn monta instalações que fazem referência à filosofia, política e à cultura pop. Essas construções são feitas com materiais baratos e efémeros como papel de alumínio, papelão, fita-cola, páginas de revistas ou jornais usados. Nelas ele coloca livros, manifestos e escritos seus, mapas, etc.
Em Serralves acorrentou livros que considera importantes para a Humanidade. Fiquei admirada por encontrar um livro que levo para qualquer lado: The Art of Happiness do Dalai Lama e Howard C. Cuttler.
As fotografias, publicidade, carteiras de escola gigantes e flyers com textos dele e de outros autores sobrepunham-se deixando-me quase tonta. O seu discurso era caótico, confuso, desestruturado, como os nossos pensamentos, e vi-me impossibilitada de entender tudo numa só leitura.
Houve uma frase que me marcou no fim deste nosso encontro: "Um artista precisa de ser capaz de fazer um gesto ousado, de ser corajoso. A arte proporciona resistência."
Penso que o princípio da Anschool é me tão sensível por causa das minhas escolas. O facto de me ter sido transmitido conhecimento através de fórmulas, formas, controle, avaliação, estruturas de relações emocionais rígidas e supostamente imutáveis. Não, o encontro com as perspectivas de Hirschhorn não foi importante por isso, é que nessa altura o meu pai não conseguiu mais utilizar essas formatações e estava a sentir que também não funcionaram para ele.
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